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Será 2025 o Ano da Trilogia de Pogačar nas Ardenas?

Será 2025 o ano da Trilogia de Pogacar?

 Amstel Gold Race

No próximo domingo, 20 de abril, o pelotão do World Tour vai enfrentar a 59ª edição da Amstel

Gold Race, a clássica que marca o início da mítica semana das Ardenas.

Criada em 1966, é a única das três clássicas desta trilogia a decorrer nos Países Baixos, e é talvez a mais imprevisível, com o seu percurso traiçoeiro de 255,9 quilómetros, com 34 subidas curtas, mas explosivas, e o emblemático Cauberg (800 metros a 6%) – que é ultrapassado três vezes- colocando os favoritos à prova nos momentos decisivos.

Uma corrida para quem sabe sofrer… e atacar no momento certo

Ao contrário das longas e desgastantes subidas da Liége-Bastogne-Liége ou das rampas inclinadas da Fléche Wallone, a Amstel exige uma leitura de corrida atenta e um excelente posicionamento, por parte dos ciclistas. As estradas estreitas e sinuosas de Limburgo forçam a uma constante luta pelo posicionamento, e os muros curtos castigam as pernas já fatigadas. A corrida não se decide numa subida, mas numa sucessão de decisões e esforços. Quem erra o momento, raramente recupera.

Pogacar e o sonho da trilogia

O principal foco de atenção é, sem dúvida, Tadej Pogacar. Depois de quase conquistar a trilogia das Ardenas em 2023, viu a Liége escapar-lhe por entre os dedos, após uma queda. Em 2025, parece mais determinado do que nunca a cravar o seu nome na história como o quarto ciclista a vencer as três no mesmo ano- algo que só Eddy Merckx, Davide Rebellin e Philippe Gilbert conseguiram.

Com a forma que tem demonstrado, e com a equipa construída à sua volta, Pogacar parte como o grande favorito. A sua versatilidade e capacidade de atacar onde e quando quiser tornam-no uma ameaça constante. Se decidir atacar no Keutenberg ou mesmo antes do Cauberg final, talvez poucos conseguirão responder.

Pidcock: a defesa do título e o estilo imprevisível

O campeão em título, Tom Pidcock, é outro nome incontornável. Venceu em 2024 com uma corrida inteligente, onde aproveitou os momentos certos para desgastar os adversários antes de lançar o sprint final. Com o apoio da sua equipa, e com a sua explosividade e técnica em descidas, é sempre candidato. Mas terá de se defender de um pelotão cheio de qualidade.

Uma constelação de estrelas e promessas

Outros nomes surgem com legítimas ambições de vitória: Wout van Aert, se estiver em forma, tem o motor e a experiência; Mars Hirschi, pode impor-se devido à sua enorme capacidade e agressividade para provas de um dia; Maxim Van Gils e Thibau Nys continuam a impressionar, e Mattias Skjelmose pode ser o trunfo da Lidl-Trek para esta fase da época.

Bem Healy, após a exibição na etapa cinco da Volta ao País Basco, é um grande nome a ter em conta. Neilson Powless também pode brilhar, principalmente se a corrida for marcada por ataques longos.

Outsiders com ambição

Há ainda aqueles nomes que podem surpreender ou voltar a brilhar. Julian Alaphilippe, mesmo longe do seu auge, é sempre perigoso. Tiesj Benoot pode beneficiar de uma corrida mais tática. E a grande incógnita é Remco Evenepoel, que fará a sua estreia na temporada, na prova belga De Brabantse Pijl – La Flèche Brabançonne, após a queda na pré-época. Certamente, não chegará a está clássica, nem às Ardenas, na forma desejada, mas nunca se sabe. Vamos aguardar. Com Remco em corrida tudo se pode esperar, à semelhança de Tadej Pogacar. Se estiver em forma, ninguém o pode ignorar. Mas também será uma oportunidade para ver o que Alan Hatherly, Tobias Foss ou Dylan Teuns conseguem fazer numa prova deste calibre.

Portugal em força

A participação portuguesa também promete emoções. Rúben Guerreiro e Nélson Oliveira (Movistar) trazem consistência e experiência, podendo ser decisivos em fugas ou no apoio aos seus líderes. Já Rui Costa, da EF-Education EasyPost, é um veterano capaz de surpreender. Se a corrida for caótica e ele for estiver nos grupos certos, não é descabido imaginá-lo a lutar pelos primeiros lugares.

A Amstel Gold Race é, por natureza, imprevisível. Mas se há algo claro nesta edição, é que Pogacar chega com a motivação de entrar para a história e a forma necessária para o fazer, tendo em conta os últimos resultados. No entanto, corridas como esta raramente seguem o guião esperado. E é isso que as torna tão fascinantes. Venha a Amstel. Que comece a batalha das Ardenas.

La Flèche Wallone

 Na próxima quarta-feira, dia 23 de abril, os olhos dos amantes do ciclismo estarão voltados para a Bélgica, onde se disputa a 89ª edição da La Flèche Wallone masculina. Não é apenas mais uma clássica no calendário. É uma espécie de cerimonial de passagem pelas colinas íngremes das Ardenas, um teste onde não basta ter pernas- é preciso ter nervos de aço e pulmões de ferro.

Com 205,2 quilómetros entre a partida em Ciney e a chegada no mítico Mur de Huy, esta prova representa mais que uma simples etapa entre a Amstel Gols Race e a Liège-Bastogne-Liège. Ela é o coração das Ardenas, e talvez a mais simbólica no que toca à essência pura do sofrimento e da estratégia.

O final, como sempre, será decidido naquela rampa duríssima de 1,3 quilómetros, o lendário Mur de Huy, com inclinações que chegam aos 17 %. Subi-lo uma vez já é coisa para poucos. Imaginemos então três passagens ao longo da corrida. Aqui não se vence por acaso. Aqui se vence porque se soube sofrer no momento certo, guardar energia e atacar na altura certa nos metros finais.

Stephen Williams foi quem conquistou os céus de Huy no ano passado, numa vitória tão surpreendente quanto merecida. Este ano, porém, o pelotão promete vir ainda mais competitivo. As novas adições ao percurso, como a Côte d´Ereffe próxima ao final, adicionam mais lenha a uma fogueira que já ardia forte. O final está mais duro, mais tático, mais imprevisível. Mas nada-absolutamente nada-se compara ao peso simbólico que carrega aquele último quilómetro. É ali que os homens se transformam em lendas. Que o tempo parece parar e o mundo se resume a um gesto: aguentar. Alejandro Valverde sabia disso. Conquistou ali cinco vitórias, quatro delas consecutivas entre 2014 e 2017. Uma marca que parece inalcançável, mas que nos lembra o quão poético pode ser o ciclismo quando encontra o seu cenário perfeito.

La Flèche Wallone é isso: um poema escrito em sofrimento. Uma clássica que não perdoa e que consagra apenas os mais frios, os mais fortes, os que sabem esperar- e os que sabem quando atacar. Na quarta-feira, veremos novamente os gladiadores da estrada enfrentarem as muralhas de Huy, E, como sempre, só um sairá coroado.

Quem pode conquistar o Mur de Huy? Favoritos à Flèche Wallone 2025

A Flèche Wallonne é a clássica que se decide em poucos metros, num só lugar: o temido e lendário Mur de Huy. E em 2025, o cenário promete repetir-se com os ingredientes já bem conhecidos: um pelotão compacto, tensão crescente ao longo do circuito final e um sprint brutal em subida nos últimos 300 metros.

Apesar da dureza das subidas que compõem o percurso, como a Côte d’Ereffe e a Côte de Cherave, é quase sempre o Mur de Huy que define o desfecho. As dificuldades anteriores servem para selecionar, sim — colocam as pernas à prova e quebram o ritmo — mas raramente são decisivas. A prova, no fundo, resume-se a uma batalha de explosão e resistência naquele último muro, onde os favoritos atacam e os sonhadores tentam resistir.

Este ano, a grande incógnita parece ser menos “como” e mais “quem”. Com Tadej Pogacar na linha de partida, qualquer análise tática precisa de começar por ele. O esloveno é, sem dúvida, o grande favorito — não apenas pela forma, mas porque é um ciclista que não respeita roteiros previsíveis. Com ele, tudo é possível: desde um ataque demolidor a 50 quilómetros do fim até um sprint seco no topo do Mur de  Huy.

Mas há outros atletas a ter em conta. Nomes como Ben Healy, Neilson Powless, Mattias Skjelmose ou Maxim Van Gils, estão a fazer uma temporada consistente e têm o perfil certo para este tipo de final. Thibau Nys é um talento emergente que merece atenção, e nomes como Enric Mas ou Ben O’Connor têm a resistência e o instinto competitivo para estar na discussão.

Depois, temos os “outsiders” — ciclistas com menos favoritismo à partida, mas que podem sempre surpreender. Julian Alaphilippe, mesmo longe dos seus dias dourados, já mostrou que sabe ganhar aqui. Remco Evenepoel, regressando de lesão, pode não estar a 100%, mas nunca deve ser descartado. Tiesj Benoot, Lennert Van Eetvelt ou Pello Bilbao são nomes que, com as circunstâncias certas, podem tirar proveito de um jogo tático entre os favoritos.

Em suma, a edição de 2025 da Flèche Wallonne promete ser um duelo entre um favorito claro e um pelotão cheio de ambição. No fim, o Mur de Huy decidirá — como sempre faz. Mas será Pogacar a levantar os braços no topo, ou teremos um golpe de teatro de um outsider destemido?

 Liège-Bastogne-Liège

No próximo domingo, 27 de abril, o pelotão profissional volta a encontrar-se com uma das joias mais antigas e duras do ciclismo mundial: a Liège-Bastogne-Liège, que recordemos, é o quarto Monumento do ano do ciclismo mundial. “La Doyenne”, como é carinhosamente chamada, celebra a sua 111ª edição com o habitual traçado de sofrimento e glória pelas Ardenas belgas. Esta é a última clássica da primavera antes do início das Grandes Voltas e, por isso, encerra com chave de ouro o ciclo de Monumentos da primeira metade da temporada.

Com 252 quilómetros de extensão, o percurso de 2025 é ligeiramente mais curto do que em edições recentes, mas não menos exigente. Onze subidas classificadas compõem um cardápio de sofrimento que testa não só a forma física, mas também o instinto estratégico dos favoritos. A combinação final de La Redoute, Côte des Forges e a decisiva Côte de la Roche-aux-Faucons, nos últimos 35 km, promete novamente ser o palco das decisões — ou das surpresas.

Pogacar e a Sombra do Favoritismo

O esloveno Tadej Pogacar, atual detentor do título, regressa à prova com o peso natural do favoritismo. Em 2024, mostrou a sua classe ao vencer com autoridade, batendo uma concorrência feroz. E, se alguém ainda tinha dúvidas sobre a sua versatilidade, a Liège do ano passado dissipou-as por completo.

No entanto, o ciclismo raramente é previsível. A surpreendente exibição de Mathieu Van der Poel, que garantiu um impressionante terceiro lugar na última edição, recorda-nos disso. O neerlandês mostrou que, mesmo não sendo um “escalador puro”, a potência e a garra podem levar longe, especialmente numa corrida em que a tática é tão importante quanto a força bruta.

Um Monumento em Constante Evolução

Apesar de ser um Monumento tradicional, a Liège-Bastogne-Liège tem sabido adaptar-se aos tempos. O percurso de 2025 mantém a alma da corrida — a dureza acumulada, as subidas curtas, mas explosivas, e o terreno propício a ataques —, mas ao encurtar ligeiramente a distância e refinar o desenho final, procura também aumentar o dinamismo da prova. E isso é algo positivo. Corridas mais abertas e imprevisíveis são, no fundo, o que os fãs desejam.

Opinião: A Esperança de uma Corrida Aberta

A esperança é que este ano se assista a um duelo entre titãs, mas também à emergência de novas figuras. A Liège, por tradição, oferece oportunidades aos mais corajosos — e isso é algo que o ciclismo moderno precisa de preservar. Que venham ataques de longe, jogadas ousadas, e um pódio que reflita mais do que apenas nomes consagrados.

A Liège-Bastogne-Liège 2025 promete mais uma vez ser um épico confronto entre tradição e talento moderno. A altimetria desafiante, a história pesada, e o contexto estratégico fazem desta corrida um verdadeiro monumento — não só do ciclismo, mas do desporto em geral.

Porque em Liège, mais do que força, vence quem sabe quando e onde atacar. E isso, meus amigos, continua a ser arte rara.

Liège-Bastogne-Liège: Pogacar parte como favorito, mas não estará sozinho

A Liège-Bastogne-Liège masculina, a última das clássicas que compõem a Semana das Ardenas, promete mais uma edição emocionante em 2025. No centro das atenções, como não podia deixar de estar, está Tadej Pogacar. O esloveno da UAE Team Emirates-XRG regressa com ambição de vencer e reforçar ainda mais o seu legado no ciclismo mundial. Se triunfar este domingo, Pogacar conquistará o nono monumento da sua carreira, um feito absolutamente impressionante para quem tem apenas 26 anos de idade.

Mas se há algo garantido nas Ardenas, é que nada se ganha facilmente. Pogacar terá pela frente um pelotão recheado de talento e ambição, com adversários que não só querem vencer como estão em grande forma para o fazer.

Entre os principais opositores, destaca-se o irlandês Bem Hraly. Destaquei-o nas três clássicas das Ardenas, devido à forma impressionante que apresentou na Volta ao País Basco. Healy surge como um dos nomes mais consistentes nas clássicas deste ano. A equipa americana (EF Education – EasyPost), aliás, apresenta um bloco fortíssimo: Neilson Powless, pronto para assumir responsabilidades, caso surja a oportunidade, e o ex-campeão olímpico, Richard Carapaz, que chega como um dos líderes.

Outros ciclistas que podem baralhar as contas são Santiago Buitrago, vencedor da Volta à Comunidade Valenciana no início da época, e Pello Bilbao, sempre perigoso em provas como esta. Também não podem ser ignorados nomes como: Mattias Skjelmose, Enric Mas, Thibau Nys, Maxim Van Gils, Romain Bardet, Tom Pidcock, Marc Hirschi, Bem Tullet, Lennert Van Eetvelt e o carismático Julian Alaphilippe, todos eles capazes de protagonizar ataques decisivos.

E claro, há também Remco Evenepoel, vencedor de edições anteriores (2022 e 2023) e sempre um candidato natural à vitória, independentemente da fase física em que se encontre.

Com tantos pretendentes ao trono das Ardenas, esta edição promete ser uma das mais disputadas dos últimos anos. Resta saber se Pogacar conseguirá impor o seu domínio mais uma vez, ou se assistiremos à ascensão de um novo herói no percurso lendário entre Liège e Bastogne.

Pogacar nas Ardenas: História em Construção

Mas a grande questão que paira no ar, depois do que vimos em 2023, da quase conquista da trilogia, por parte de Pogacar, da Semana da Clássica das Ardenas, não fosse a queda na Liège, é se ele realmente será capaz de conquistar as três clássicas das Ardenas?

Essa é uma pergunta que mexe com o imaginário de qualquer fã de ciclismo: será Tadej Pogacar capaz de vencer a trilogia da semana das Clássicas das Ardenas — Amstel Gold Race, La Flèche Wallonne e Liège-Bastogne-Liège?

Em teoria, sim, Pogacar tem tudo para conseguir. Estamos a falar de um corredor que já demonstrou dominar praticamente todos os terrenos: sobe com os melhores, sprinta quando é preciso e tem uma leitura de corrida que poucos conseguem igualar. Além disso, já venceu seis das três provas da trilogia: Liège em 2021 e 2024, a Flèche Wallonne em 2021,2022 e 2023, e a Amstel Gold Race em 2023 o que comprova que tem as armas certas para cada uma delas.

Mas na prática, essa missão é monstruosamente difícil. Vencer uma já é difícil. Vencer duas é épico. Vencer as três… é entrar num clube praticamente inexistente. O último a fazê-lo foi Davide Rebellin, em 2004 — e isso diz muito sobre a raridade do feito. As três corridas têm perfis muito diferentes: a Amstel é nervosa e caótica, a Flèche é explosiva e termina sempre no duro muro de Huy, e a Liège é uma prova de resistência e estratégia.

Pogacar, claro, tem talento e equipa para o fazer, mas o calendário, a recuperação entre provas, a concorrência feroz e os imprevistos tornam esse feito quase utópico. Se alguém pode quebrar essa lógica, é ele. Mas o ciclismo adora lembrar-nos que nem sempre o mais forte vence.

Em resumo? Pogacar é um sério candidato a entrar na história com a trilogia, mas se conseguir, será talvez o feito mais impressionante da sua carreira até agora — e isso vindo de um ciclista que já venceu dois Tours e vários Monumentos.

E tu, achas que ele consegue?

 

Créditos Texto: Joel PEREIRA | Foto: A.S.O./Gaëtan Flamme

 

 

 

 

 

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