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Ciclistas Têm Memória Mais Forte — E a Ciência Explica Porquê

Ciclismo e Demência: Pedalar Pode Proteger o Teu Cérebro

Andar de bicicleta é muito mais do que uma forma eficaz de manter a forma física ou poupar combustível. Um estudo publicado a 9 de junho de 2025 pela prestigiada JAMA Network Open veio confirmar algo que muitos ciclistas já suspeitavam: pedalar regularmente está associado a um risco significativamente menor de desenvolver demência.

O Estudo em Destaque

A investigação foi conduzida por cientistas da Universidade de Huazhong, na China, em colaboração com a Universidade de Sydney, na Austrália. Os investigadores analisaram os dados de saúde de 479 mil britânicos com idade média de 56 anos, ao longo de mais de 13 anos de acompanhamento clínico.

O objetivo era simples mas ambicioso: perceber se havia alguma ligação entre o modo de transporte utilizado diariamente e o risco de desenvolver demência. Curiosamente, os trajetos relacionados com o trabalho foram excluídos da análise, para dar foco aos hábitos de mobilidade do dia a dia.

‍♀️ Os Grupos Estudados

Os participantes foram divididos em quatro categorias:

  1. Utilizadores de transporte não ativo (como carro ou mota)

  2. Caminhantes

  3. Pessoas que combinavam caminhada com outros meios

  4. Ciclistas

E foi precisamente este último grupo que apresentou os melhores resultados a nível cognitivo.

Redução Clara no Risco de Demência

Os dados foram claros e estatisticamente robustos:

  • 19% menos risco de desenvolver qualquer tipo de demência

  • 22% menos risco de Alzheimer

  • 40% menos risco de demência precoce (antes dos 65 anos)

  • 17% menos risco de demência de início tardio

Estes números mostram que pedalar com regularidade não só mantém o corpo saudável, como também ajuda a preservar a mente.

Como o Ciclismo Protege o Cérebro?

A explicação está nos efeitos neurológicos positivos da atividade física, nomeadamente do ciclismo:

  • Melhoria do fluxo sanguíneo cerebral, facilitando a oxigenação e nutrição dos neurónios.

  • Estímulo à produção de BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), essencial para a regeneração neuronal e plasticidade cerebral.

  • Aumento da matéria cinzenta em regiões associadas à memória e aprendizagem, como o hipocampo.

  • Redução de fatores de risco cardiovascular (hipertensão, diabetes, obesidade), que estão diretamente ligados ao declínio cognitivo.

Um Estilo de Vida Ativo, Uma Mente Saudável

Os autores do estudo reforçam que modos de transporte ativos, como caminhar e pedalar, são formas simples e eficazes de incorporar atividade física no quotidiano — especialmente em cidades onde a deslocação ativa é possível e segura.

A mensagem é clara: pedalar regularmente pode ser um dos investimentos mais eficazes na saúde mental a longo prazo. E o melhor é que não exige grandes equipamentos nem ginásios: basta uma bicicleta e vontade de mudar o rumo da tua saúde.


Bibliografia

  • Chen, H., et al. (2025). Associations Between Active Commuting and Risk of Dementia: A UK Biobank Cohort Study. JAMA Network Open. https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2819783

  • World Health Organization. (2020). Risk Reduction of Cognitive Decline and Dementia: WHO Guidelines.

  • Erickson, K. I., et al. (2011). Exercise training increases size of hippocampus and improves memory. PNAS, 108(7), 3017–3022.

  • Maass, A., et al. (2015). Vascular hippocampal plasticity after aerobic exercise in older adults. Molecular Psychiatry, 20, 585–593.

  • Norton, S., et al. (2014). Potential for primary prevention of Alzheimer’s disease: an analysis of population-based data. The Lancet Neurology, 13(8), 788–794.

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