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Como é pedalar pela Estrada Nacional 2?

Muitas vezes apelidada de “Route 66 portuguesa”, a Estrada Nacional 2 (EN2) está rodeada de uma aura mítica. A publicidade é tanta que, confesso, em mim próprio nasceu o desejo de a percorrer de bicicleta, de ponta a ponta, ligando Chaves a Faro ao longo dos seus 738 quilómetros (739, dependendo da fonte). Trata-se da segunda estrada mais longa da Europa, atravessando 35 municípios e uma diversidade única de paisagens que só Portugal consegue oferecer.

A estrada foi criada oficialmente em 1945, durante a reorganização da rede viária nacional. No entanto, muitos dos seus troços são bem mais antigos, construídos sobre vias romanas e caminhos medievais que já uniam o Norte e o Sul. É a única estrada na Europa que cruza um país inteiro, de forma contínua, de norte a sul.

Mas a verdade é que, mais do que números ou curiosidades históricas, pedalar na EN2 é sentir a estrada. E o ciclismo é isso mesmo: viver a paisagem ao ponto de nos confundirmos com ela.


Pedalar ou fazer ciclismo?

Deixem-me fazer uma distinção quase filosófica. Gostar de pedalar não é o mesmo que gostar de ciclismo. Muitos praticantes vivem apenas para as métricas: watts, cadências, médias horárias. Para mim, o prazer está muito além disso. É o vento na cara, a subida que nunca mais acaba, a descida que nos liberta, o cheiro da terra, as conversas improvisadas em andamento.

A EN2 dá-nos tudo isso e mais ainda.


O projeto nasce

Tudo começou com uma conversa entre pai e filho. Depois juntaram-se os amigos mais próximos, aqueles que dizem “sim” às aventuras mais improváveis. Daí nasceu o desafio: organizar a travessia da EN2 de bicicleta.

No final, éramos 14 ciclistas e um carro de apoio, conduzido pelo Kevin, que se tornou parte indispensável da viagem. Fixem estes números, porque eles moldaram a experiência.


O plano das etapas

Sem conhecimento prévio do terreno, estudámos a informação disponível online e desenhámos as etapas. Dividimos a EN2 em cinco dias de aventura:

  • 1º dia – 15 de setembro: Chaves → Castro Daire, 142 km com 2277 m D+

  • 2º dia – 16 de setembro: Castro Daire → Arganil, 122 km com 1827 m D+

  • 3º dia – 17 de setembro: Arganil → Ponte de Sor, 164 km com 2443 m D+

  • 4º dia – 18 de setembro: Ponte de Sor → Ferreira do Alentejo, 168 km com 1712 m D+

  • 5º dia – 19 de setembro: Ferreira do Alentejo → Faro, 139 km com 1639 m D+

Visto no papel parecia apenas um plano bem estruturado. Na realidade, foi muito mais: esforço, contratempos, calor, vento, mas também sorrisos, paisagens inesquecíveis e a certeza de que criámos uma experiência de ciclismo autêntica.

Os valores apresentados foramos finais, medidos com um GPS IGS800 colocado na bicicleta do Pedro e que podes ver no Strava.


O lado cru da EN2

O que percebemos durante a viagem é que a EN2 é, para já, apenas uma ideia. Uma espécie de manta de retalhos, mal cosida em certos pontos, que por vezes nos deixa expostos e desconfortáveis. Mas talvez seja precisamente isso que a torna marcante.

Afinal, o que ainda hoje nos fascina no imaginário do velho Oeste não é o conforto, mas sim a rudeza, a imprevisibilidade e o selvagem. A EN2 tem esse mesmo encanto: não é perfeita, mas é real.


A viagem vale a pena?

Vale. Vale muito. Pela estrada, pelas pessoas, pelas conversas, pelos cafés de aldeia e pelas fotografias tiradas em cima da bicicleta. A EN2 não é apenas um traçado de alcatrão. É uma linha que cose Portugal de norte a sul, que atravessa montanhas, rios, planícies e serras, e que, no final, deixa em nós a sensação de termos percorrido não apenas uma estrada, mas uma parte da nossa própria identidade.

Continua…

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