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Como é pedalar pela Estrada Nacional 2? – Etapa 2: De Castro Daire a Arganil

Quando nos sentámos a desenhar as etapas, havia sempre uma dúvida em torno do segundo dia. No papel parecia mal distribuído: apenas 120 km, mas com 1.827 metros de desnível positivo acumulado. Comparado com os restantes dias, parecia pouco. Mas a estrada ensina rápido — uma coisa é o plano, outra é o terreno. E muitas vezes distam tanto quanto o sol da lua.


Pequeno-almoço cedo, partida tranquila

No Palace Astúrias & Spa, o pequeno-almoço começou cedo e, às 8h12, iniciei a contagem no GPS. O destino era Arganil.

Aqui também começou a verdadeira história do grupo. Inicialmente, tínhamos pensado num desafio para 24 pessoas, mas cedo percebi que logisticamente seria quase impossível. Ao pesquisar alojamentos, deparei-me com os primeiros obstáculos: precisávamos de locais com capacidade para guardar 14 bicicletas (avaliadas em conjunto em mais de 100 mil euros), camas individuais para todos, proximidade de restaurantes e, se possível, piscina.

Rapidamente reduzi o grupo para 15 pessoas, número mais exequível. Afinal, o final de cada etapa não seria apenas descansar — era também viver o lugar, desfrutar do alojamento e criar boas memórias fora da bicicleta.


O trajeto pelas cidades e vilas do Centro

A rota do segundo dia atravessa alguns dos municípios mais marcantes da região Centro:

  • Castro Daire, ponto de partida, já em pleno sopé da Serra de Montemuro.

  • Viseu, a “Cidade-Jardim”, com o seu centro histórico, a Sé e a ligação profunda ao Dão vinhateiro.

  • Tondela, onde a EN2 cruza zonas rurais ligadas ao vinho do Dão.

  • Santa Comba Dão, banhada pelo rio Mondego e próxima da albufeira da Aguieira.

  • Mortágua, terra de tradições beirãs e natureza marcada pela Serra do Buçaco.

  • Vila Nova de Poiares, conhecida pela gastronomia (nomeadamente o célebre cabrito e o leitão).

  • Arganil, porta de entrada para a Serra do Açor, onde terminaria a etapa.

Uma sequência de municípios que, vistos no mapa, parecem curtos de ligar, mas em cima da bicicleta revelam-se exigentes.


O dia das dificuldades inesperadas

Apesar de curta, a etapa mostrou-se bem mais dura do que antecipado. Em Viseu, o GPS pregou-nos uma partida: o track que desenhámos estava errado e a sinalização para a EN2 era praticamente inexistente. Resultado: andámos perdidos. Valeu o velho ditado “quem tem boca vai a Roma” e lá conseguimos regressar à rota certa.

Fizemos uma paragem em Tondela para café e reforço, mas a verdade é que esta etapa trouxe mais tensão na partilha da estrada com os carros. Ao contrário do dia anterior, senti menos fluidez, menos prazer em pedalar. O mau estado de algumas estradas, ciclovias em péssimas condições e alcatrão irregular não ajudaram a levantar a cabeça e apreciar a paisagem.

Chegámos todos bem, mas ficou a sensação de que uma etapa curta pode ser, afinal, das mais exigentes.


A desilusão em Arganil

O desvio para Arganil foi necessário por falta de opções de alojamento que respondessem aos requisitos básicos. Na internet, o espaço parecia ter tudo o que precisávamos: camas individuais, piscina, ambiente acolhedor e espaço para bicicletas. Mas a realidade foi outra.

A piscina estava fora de serviço (apesar de termos pago por ela), as instalações eram medianas e o acolhimento, péssimo. Para agravar, apesar de nas mensagens trocadas nos terem garantido lugar seguro para guardar as bicicletas, já no local essa possibilidade foi sempre negada. Tivemos mesmo de improvisar: retirar os bancos da carrinha de apoio para transformar o interior num armazém improvisado onde pudessem ficar as 14 bicicletas.

Uma experiência hoteleira que dificilmente esquecerei — mas não pelas melhores razões. Ficou a vontade de nunca mais voltar e de recomendar a outros que façam o mesmo.


O balanço

Se o primeiro dia tinha sido mágico, o segundo foi a prova de que nem sempre o ciclismo é feito apenas de estradas bonitas e momentos perfeitos. Houve percalços, houve desilusões, mas houve também aprendizagem. A EN2 tem esse lado cru: nem sempre é romântica, mas é sempre real.

Continua…

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