Liège-Bastogne-Liège 2025: Pogacar, o génio que ataca onde todos esperam- e mesmo assim destrói a concorrência
A edição de 2025 da Liège-Bastogne-Liège foi uma demonstração de força, estratégia e coragem, encarnada na perfeição por Tadej Pogacar. Desde cedo a corrida apresentou-se tática: uma fuga de doze corredores, entre eles Jack Haig e Eduardo Sepulveda, chegou a ter seis minutos de vantagem, mas nunca pareceu ameaçar o destino da prova. A UAE Team Emirates-XRG e a Soudal Quick-Step controlaram o ritmo do pelotão desde o início, com a ajuda pontual da Lidl-Trek, sempre atentos às movimentações.
Cada subida era uma batalha pelo posicionamento na frente do grupo, e a tensão era constante. O ataque falhado de Bob Jungels e Tobias Foss e o desgaste imposto pela UAE foram moldando o dia. Quando se entrou no duro Côte de Stockeu, a UAE intensificou ainda mais o ritmo, eliminando nomes importantes e preparando o terreno para o golpe final.
Era inevitável: a pergunta não era “se” Pogacar atacaria, mas sim “quando”. A resposta surgiu na mítica La Redoute, a 30 quilómetros da meta. Sem esperar por ninguém, Pogacar lançou-se para a frente e, surpreendentemente, ninguém conseguiu responder. O esloveno seguiu isolado, enquanto atrás se formava um grupo de perseguição com Julian Alaphilippe, Guilio Giconne, Ben Healy e Tom Pidcock.
Nesse momento, a emoção da corrida mudava de foco: a luta não era mais pela vitória-essa parecia já entregue a Pogacar-, mas sim pela honra de terminar no pódio. Giulio Giconne foi o mais ousado entre os perseguidores, atacando e apenas seguido por Ben Healy, enquanto Alaphilippe e Pidcock cediam.
Tadej Pogacar cortou a meta em Liège com a classe de quem fez história: conquistou o seu nono monumento, igualando lendas como Fausto Coppi e Sean Kelly. Giconne fez um brilhante segundo lugar, e Healy fechou o pódio mostrando que é hoje um dos ciclistas mais promissores do pelotão. Quanto à participação portuguesa de Nelson Oliveira e Rúben Guerreiro, terminaram na 54ª e 55ª posições, respetivamente.
Destaques e críticas
Pogacar confirmou o que o torna tão especial: a capacidade de atacar quando se espera-mas de tal forma, que mesmo preparados, os adversários ficam sem resposta. Atacar na La Redoute, o local mais previsível? Sim. Mas a brutalidade com que o fez e a distância até à meta transformaram este ataque num gesto de pura genialidade.
Remco Evenepoel, por outro lado, foi uma das grandes desilusões. Um mau posicionamento na entrada da La Redoute custou-lhe caro. Sendo um dos principais candidatos à vitória, sabia que era fundamental estar bem colocado. A falha tática foi imperdoável e, na minha opinião, impediu aquele que poderia ter sido o maior rival de Pogacar nesta corrida.
Quero ainda destacar Giulio Giconne como o “outsider” que brilhou mais alto. Num pelotão recheado de nomes como Evenepoel, Pidcock e Alaphilippe, Giconne provou que está de volta à sua melhor versão- e promete ser um nome a ter em conta nas próximas grandes provas
A semana das Ardenas em perspetiva
Olhando para o conjunto da Semana das Ardenas, a Amstel Gold Race foi, para mim, a mais espetacular, imprevisível e emocionante, muito por culpa da épica recuperação de Remco Evenepoel. A Flèche Wallone, mais calma e estratégica, ficou apenas decidida nos metros finais. Já esta Liège-Bastogne-Liège posicionou-se como a segunda corrida mais emocionante das três: apesar de o ataque de Pogacar ter decidido cedo a vitória, a incerteza sobre quem ficaria no pódio manteve-nos colados ao ecrã até ao fim.
A Liège-Bastogne-Liège não foi apenas mais uma corrida: foi uma celebração da coragem e do instinto atacante que fazem do ciclismo um dos desportos mais apaixonantes do mundo.
Créditos da imagem: Valter Dohnert
Texto escrito por: Joel Pereira

