Newsletter

Ciclismo, Desporto Amador e Bicicletas: Um Tesouro Económico por Explorar em Portugal

Portugal é, por muitas razões, um país onde o desporto amador floresce: clubes locais em cada freguesia, milhares de voluntários, atividades que unem comunidades. Mas por trás desta realidade social vibrante, existe um fenómeno ainda pouco reconhecido — o impacto económico real do desporto amador, em especial de modalidades como o ciclismo, tanto na vertente desportiva como no uso quotidiano da bicicleta.

Neste artigo, vamos explorar como estes setores não só geram riqueza, como contribuem para a saúde pública, a sustentabilidade e a inovação industrial. O desporto, afinal, não é só lazer — é uma alavanca económica e estratégica para o país.


O Valor Económico do Desporto Amador em Portugal

O desporto amador representa um dos maiores ecossistemas sociais e económicos de base em Portugal. De acordo com um estudo da Confederação do Desporto de Portugal (2024), o setor movimenta mais de 1,09 mil milhões de euros por ano, embora o Estado contribua com menos de 10% deste valor (Expresso, 2024).

Em regiões como o distrito do Porto, clubes de futebol amador movimentam 10 milhões de euros por época, enquanto só a Associação de Futebol de Leiria arrecadou 8 milhões numa época, contribuindo com 1,5 milhões de euros em impostos (RTP, 2020).


A Força Industrial do Ciclismo em Portugal

Portugal não é apenas um praticante de ciclismo — é uma potência industrial neste setor. Em 2022, foi o maior produtor de bicicletas da Europa, com mais de 3 milhões de unidades produzidas e mais de 800 milhões de euros em exportações (MUBi, 2023).

O setor emprega atualmente cerca de 7.800 pessoas, tendo crescido 65% nos últimos cinco anos. A cadeia de valor do ciclismo — que inclui produção, montagem, exportação, comércio retalhista, turismo de bicicleta e eventos — representa uma indústria em expansão com alto potencial de inovação verde.


‍A Bicicleta como Solução Económica e Social

A bicicleta não é só uma ferramenta de lazer ou competição. É também um meio de transporte económico, sustentável e saudável. Contudo, Portugal ainda apresenta uma taxa de utilização muito baixa: apenas 0,5% da população usava a bicicleta como transporte diário segundo os Censos de 2011 — um número que está a crescer, mas ainda distante da média europeia.

Um estudo publicado na revista Finisterra mostra que, se Portugal aumentasse a sua quota modal da bicicleta em apenas 2% nos próximos 10 anos, isso resultaria em:

  • Redução de 1,1 milhões de euros/ano em emissões de CO₂

  • ⛽ Poupança de quase 25 milhões de euros/ano em combustíveis

  • 500 mil euros/ano de ganhos na qualidade do ar

  • ❤️ Mais de 140 milhões de euros/10 anos em benefícios de saúde pública pela prática física
    (Finisterra, 2023)

Isto significa que a bicicleta pode ser uma das políticas públicas mais custo-eficazes ao nível de mobilidade, saúde e ambiente.


Ciclismo Desportivo e Turismo: Um Ativo a Valorizar

Além do ciclismo como transporte urbano, existe um forte potencial no ciclismo desportivo e de lazer, especialmente em zonas rurais e de interior. Percursos cicláveis, provas amadoras, eventos federados e turismo ativo geram receitas em:

  • Alojamento local

  • Restauração

  • Comércio de bicicletas e acessórios

  • Transportes e logística



Oportunidade Estratégica

Investir no desporto amador e na mobilidade ciclável não é um custo — é uma oportunidade estratégica. Os dados são claros:

  • Gera emprego qualificado e exportações industriais.

  • Reduz despesas públicas em saúde e ambiente.

  • Estimula o turismo, o comércio e a coesão social.

  • Melhora a qualidade de vida urbana e rural.

Portugal tem tudo para liderar na Europa uma nova economia do desporto e da mobilidade ativa — mas para isso precisa de visão política, investimento público e vontade de integrar estas áreas nas grandes decisões económicas.


Conclusão

A travessia entre o desporto amador e a bicicleta vai muito além do lazer. É uma travessia económica, social e ecológica, onde Portugal pode ser exemplo. Está na hora de tratarmos o desporto e o ciclismo como aquilo que verdadeiramente são: motores de desenvolvimento sustentável.

Partilha:

Artigos Relacionados