Se és ciclista regular, especialmente se utilizas pedais de encaixe (também conhecidos como pedais automáticos), já sabes que a travessa – aquela pequena peça que liga o sapato ao pedal – é fundamental para uma pedalada eficiente e segura. No entanto, o que muitos ignoram é que, com o tempo, as travessas desgastam-se, comprometendo o encaixe e, mais grave ainda, a posição do pé no pedal. Esta é uma questão muito mais séria do que parece à primeira vista.
O problema do desgaste e da troca desinformada
As travessas, tal como os pneus ou as pastilhas de travão, têm um tempo de vida útil. Com o uso regular – sobretudo se andas de bicicleta com frequência, como muitos amadores e atletas de fim-de-semana – estas peças sofrem desgaste tanto nos pontos de contacto com o pedal como na zona dos parafusos que as fixam ao sapato. Esse desgaste pode causar:
Folgas no encaixe, reduzindo a eficácia da transferência de potência;
Desalinhamento da posição do pé, afectando a biomecânica da pedalada;
Dores nos joelhos, ancas e até na lombar, fruto de um posicionamento inadequado;
E em casos extremos, lesões por sobrecarga ou inflamações crónicas.
Infelizmente, muitos ciclistas só se apercebem do problema quando já sentem dor, desconforto ou perda de rendimento.
Trocar travessas em casa: é possível, mas com cuidados
A maioria dos ciclistas opta por trocar as travessas em casa, o que é perfeitamente viável. Contudo, há um erro comum e recorrente: ao remover a travessa antiga e instalar a nova sem replicar a posição exacta, o ciclista altera inadvertidamente a sua posição sobre o pedal. E mesmo variações de poucos milímetros podem ter consequências sérias, especialmente para quem pedala com regularidade.
É aqui que entra a importância do conhecimento técnico. A posição da travessa influencia directamente o alinhamento do joelho, o ângulo do tornozelo e a distribuição das forças na pedalada. Uma ligeira rotação da travessa ou uma deslocação para trás pode mudar todo o eixo de movimento do membro inferior. Pequeno erro, grande consequência.
A importância do bikefit e das boas práticas
Como bikefitter, vejo frequentemente ciclistas que desenvolvem lesões ou desconfortos aparentemente inexplicáveis, quando na verdade a origem está numa simples troca de travessas mal feita. Por isso, recomendo sempre:
Marcar a posição da travessa antiga antes de a remover, com uma caneta ou fita adesiva;
Tirar fotos ou medidas exactas antes de desmontar;
Usar modelos de travessas compatíveis e preferencialmente da mesma marca;
Se possível, fazer a substituição com base numa avaliação biomecânica prévia;
E, claro, consultar um profissional se houver dúvidas ou sintomas físicos após a troca.
Conclusão: não subestimes a travessa
Pode parecer apenas mais um componente do equipamento de ciclismo, mas a travessa é uma peça crucial para a tua performance, conforto e, acima de tudo, saúde. Trocar as travessas em casa é possível – e até recomendável – desde que saibas o que estás a fazer. Se tiveres dúvidas ou quiseres garantir que tudo está no sítio certo, procura o apoio de um bikefitter. O teu corpo vai agradecer.